A proporção da população mais idosa está aumentando segundo dados fornecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Em 2020 o número de idosos será maior que o de crianças. Este dado corrobora com a heterogeneidade da velhice, que além da idade, está diretamente relacionada com o gênero, as condições econômicas, a saúde, a etnia, o nível educacional, o tipo de residência, o estilo de vida, enfim, todo o contexto no qual vivem as
pessoas acima de 60 anos.
Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam que os idosos no Brasil deverão representar em 2060, 26,7% da população, ou seja 58,4 milhões de idosos para uma população de 218 milhões de pessoas.
Segundo projeções demográficas, já no ano de 2020 o Brasil ocupará o 5º lugar no ranking mundial de população idosa, quando 15% de sua população, ou seja, 32 milhões de pessoas aproximadamente, terão 60 anos ou mais. Desde já, essa informação remete uma preocupação dos defensores dos direitos dos anciãos e ao mesmo tempo, chama atenção do governo brasileiro, que precisa se preocupar com esse cenário e tomar medidas de impacto voltadas para esse segmento da população.
Além do envelhecimento populacional, observa-se também uma expansão de idosos mais idosos (pessoas com 80 anos e mais), favorecendo o envelhecimento dentro dessa faixa etária.
Para contextualizar o aspecto social do envelhecimento e velhice, é preciso caracterizar a idade social, que é constituída de comportamentos atribuídos aos papeis etários que a sociedade determina para seus membros. Esses atributos caracterizam as pessoas e variam de acordo com a cultura, o gênero, a classe social, as mudanças geracionais e as condições de vida e trabalho.
Socialmente a velhice tem como marco a saída do mercado de trabalho, ou seja, a entrada na aposentadoria. Para alguns estudiosos esse momento é percebido como um desengajamento da vida social, perda de status social e inatividade (por falta de atividades alternativas ao trabalho). Para outros a aposentadoria pode ser compreendida como o início de uma vida social prazerosa, repleta de atividades, experiências novas e lazer.
Alguns pontos são necessários para que isto seja possível. Além do aumento no número de idosos no Brasil, estamos em paralelo a uma mudança tecnológica que está se desenvolvendo em alta velocidade. É imprescindível investigar quais as abordagens adequadas para introduzir o idoso na tecnologia de modo a lhe proporcionar bem-estar e promoção de saúde.
Sabe-se que os municípios brasileiros possuem escassez de programas desenvolvidos especificamente para idosos, em especial ações voltadas ao uso de equipamentos informatizados que promovam o entretenimento e a estimulação de suas habilidades físicas e mentais.
Reforça-se a estas afirmações o Estatuto do Idoso, Lei n°10.741, no Capítulo V, Art. 20, que defende que o idoso tem direito “a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade”. Refere ainda, no Art. 21, que: “o poder público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele
destinados” (BRASIL, 2003).
A Estação Ativamente é um programa voltado para indivíduos com idade de 60 anos ou mais, que visa a estimulação das habilidades cognitivas, físicas e de humor do indivíduo idoso, proporcionando maior interação social, maior independência e autonomia e prevenção de declínio funcional e da memória através de equipamentos e jogos eletrônicos desenvolvidos e
adequados a população idosa.
a) Organizar um ciclo de encontros de estimulação através dos jogos eletrônicos para serviços de convivência para idosos saudáveis;
b) Analisar impactos nas relações sociais, e sintomas depressivos após tempo de participação no Programa de Estimulação nos jogos eletrônicos;
c)Verificar a satisfação e o aprendizado dos participantes da oficina em relação aos jogos realizados;
d) Investigar os efeitos do programa de estimulação na cognição global dos participantes, no equilíbrio e nas habilidades sensório motoras.
A “Estação Ativamente” é uma iniciativa é inédita e pioneira no Brasil, e comparativamente também inédita em países desenvolvidos, estando alinhada com o cenário e as tendências mundiais acerca do envelhecimento, orientações da OMS e do Estatuto do Idoso.
Este programa consiste de exercícios físicos e mentais através de equipamentos eletrônicos e jogos de computadores, nas quais as atividades são feitas de forma lúdica e divertida.
Ao iniciar o programa, todos os participantes completarão um protocolo que incluirá um questionário sócio-demográfico e um protocolo de avaliação cognitiva global em idosos, a Addenbrooke’s Cognitive Examination – Revised (ACE-R) adaptada por Carvalho (2008).
A Estação Ativamente é composta por :
Tem por objetivo realizar o treinamento da atenção visual, por meio da alternância de letras e números que são iluminados aleatoriamente.
Adicionalmente estimula as habilidades de força muscular da preensão manual e do equilíbrio por necessitar que o idoso mantenha-se equilibrado e apoiado em uma barra de ferro, tais habilidades são essenciais para a funcionalidade do idoso em suas atividades de vida diária.
Neste equipamento verifica-se a capacidade de planejamento e desenvolvimento de
estratégias para atingir metas, o que requer flexibilidade de comportamento, integração de detalhes de modo coerente e o manejo de múltiplas fontes de informação, coordenados com o uso de conhecimento adquirido.
É uma avançada ferramenta de estimulação cognitiva ( Supera On-Line), que consiste em uma plataforma digital, com exercícios e desafios on line/off line que oferece uma variedade de jogos, a serem executados individualmente com muitos níveis e graus de dificuldade, para exercitar e desenvolver as 5 principais habilidades cognitivas: memória, atenção, linguagem, raciocínio lógico e visão espacial.
O programa através de metodologia proprietária, mapeia o grau cognitivo de cada pessoa e sugere através de um instrutor virtual o treinamento adequado para cada um deles.
Os resultados são totalmente monitorados através das funcionalidades do programa, que gera gráficos e índices comparativos e de progresso individual.
Todos os equipamentos passaram por adaptações que atendessem as particularidades da terceira idade, como design, som, velocidade de processamento de informações, níveis de dificuldades e acessibilidade apropriados para adultos e idosos.
Toda a metodologia e capacitação do programa Estação Ativamente é ministrada por profissionais especializados da área da Gerontologia a monitores da Secretária de Ação Social.
Além disso, mensalmente esses profissionais fazem visitas e reuniões com os monitores para fazerem o acompanhamento do programa e analisarem a evolução dos resultados do mesmo.
Ao término do programa é feito uma avaliação com cada participante das impressões gerontológicas nos equipamentos da Estação Ativamente, como também sua evolução cognitiva.
Sabe-se que iniciativas como esta auxiliam o preparo da população idosa no domínio operacional dos recursos computacionais e tecnológicos, gerando a alfabetização da nova linguagem que se faz presente em todos os setores da sociedade, promovendo assim a inclusão do idoso não apenas na era digital, mas nas transformações da sociedade.
Sabe-se também que intervenções como a participação em um programa tecnológico e de entretenimento como a Estação Ativamente, documenta a possibilidade que com o uso de equipamentos eletrônicos e computadores podemos promover aos indivíduos de meia idade, jovens idosos e idosos de idades mais avançadas, benefícios para o desempenho cognitivo, melhoria de suas habilidades psicomotoras e sensoriais, promovendo uma melhor qualidade de vida, e menores taxas de declínios funcionais, por otimizar a promoção da saúde.
Adicionalmente destaca-se que a Estação Ativamente, proporciona a realização de atividades físicas, estimulando no idoso seus movimentos corporais, e como consequência a contração muscular, resultando em um gasto energético maior do que os níveis em repouso.
Sendo realizados nos equipamentos exercícios físicos com planejamento, estrutura e repetição, resultam na melhoria do equilíbrio, na velocidade da marcha, motricidade dos membros superiores e inferiores, na otimização da capacidade funcional e na manutenção da saúde e aptidão física.
Sabe-se também que com a possibilidade de realizações de atividades grupais como as compostas nesta Estação, os idosos tendem a diminuir o índice de isolamento social e de sintomas depressivos, conforme observados em estudos prévios, reforçando a possibilidade deprevenção de doenças e de vulnerabilidade social.
Mediante a estes dados verificamos que o programa Estação Ativamente, está em consonância coma literatura Gerontológica, reforçando a importância de um Programa de Estimulação Cognitiva Computadorizada como a Estação Ativamente, pois inclui lazer e ludicidade direcionado para indivíduos com 50 anos ou mais.
Além disso trata-se de uma iniciativa pioneira no Brasil que visa contribuições para a implementação de políticas públicas para o segmento dos cidadãos da terceira idade.
Adicionalmente a replicação de um programa como este personalizada para idosos tem a possibilidade de promoção de um envelhecimento ativo, aumento de relações sociais, com empoderamento, protagonismo e com resignificado de vida aos seus participantes envolvidos por oferecer ludicidade, preenchimento de rotina e atividades preventivas de declínio em saúde. Sendo estas as premissas para autonomia e independência no decorrer da meia idade e da velhice segundo Relatório de Envelhecimento Saudável da Organização Mundial da Saúde em 2015.
Em resumo, por se tratar de uma ferramenta que promove o envelhecimento ativo através do uso da tecnologia diminuindo os riscos de mortalidade, hospitalização, e de institucionalização em idosos, recomendo a implementação do programa Estação Ativamente como politica pública para os municípios brasileiros.
Gerontóloga pela Universidade de São Paulo, Mestrado e Doutorado em Cognição e Envelhecimento, pela Faculdade de Medicina da USP.
Presidente da Associação Brasileira de Gerontologia, nas gestões de: 2011-2013, 2013-2015. Coordenou a pesquisa de campo, de análises de dados e as oficinas da Universidade Aberta da Terceira Idade da USP, no período de 2010-2012, com financiamento do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP-MEC) e em parceria com a coordenação do Curso de Gerontologia da USP.
Realiza atividades nas unidades SESC São Paulo, litoral, interior e capital desde 2007 com oficinas de estimulação cognitiva para idosos. Possui experiência em capacitação de profissionais do SESC São Paulo, SESC Distrito Federal e do SESC Curitiba-PR (SESC Esquina), envolvendo equipe CIPA. Publicação de mais de 50 artigos em periódicos nacionais e internacionais da área do envelhecimento. Participação em mais 80 palestras para idosos em centros de convivência e em centros dia. Coordena atualmente um Grupo de Apoio Informativo para cuidadores e familiares de pacientes com demência da Associação Brasileira de Doença de Alzheimer e Desordens Relacionadas (ABRAZ) Unidade Santa Cruz, colégio Marista Arquidiocesano. Participou de mais de 100 congressos nacionais e internacionais na área de Geriatria, Gerontologia, e Neurociências. É membro do corpo editorial de periódicos científicos nacionais da área do envelhecimento e colunista dos sites:
www.aterceira.com.br
www.portalterceiraidade.com.br
www.residencialemfamília.com.br